quarta-feira, 15 de julho de 2009

Atracção

''(...) ela imagina a pressão do peito dele, a respiração arquejante dele contra os seus ouvidos, o coração acelerado, as imprecações descontroladas, os minutos em que ele será dela. A captura, a presa. Ela não é apenas um animal - ela é um predador e deitá-lo-á abaixo. O afecto dela é uma coisa infinitamente terna, mas inexoravelmente determinada. Ela capturá-lo-á com garras, qual luz do Sol sedutora. Entorpecido com o choque, ele nada sentirá a não ser o desejo de oferecer o seu pescoço. A necessidade que ela tem dele é urgente, mas avança com cuidado. (....) Ele deve ser aceite como verdadeiro; deve sentir-se preso às circunstâncias. Aos olhos dela, porém, ele brilhará, emanando uma claridade esplendorosa. Ele encontrará nela tudo aquilo que julgara irremediavelmente perdido e ela nascerá no seu mundo como uma estrela.(...)Alisar-lhe-ia o sobrolho, contornar-lhe-ia os lábios, afagar-lhe-ia as maçãs do rosto, sussurrar-lhe-ia coisas, fecharia os seus belos olhos sob as palmas das suas mãos. Fá-lo-ia jurar morrer por ela, se ao menos soubesse como. Ao invés de tudo, ouve-se a si própria dizer com a sua voz mais reles e desprovida de encanto:- Tu sabes, não sabes, que eu quero comer-te até gritares?É grosseiro e disparatado, repulsivamente juvenil, mas ele não recua, nem mesmo pestaneja. Ela acaba por se sentir completamente estúpida por ter descido tão baixo, por causa de um homem daqueles, um daqueles homens irritantes por quem as mulheres pelejam como corvos. É então que, para seu espanto, depara com uma leoa rastejante dentro de si, uma leoa de pêlo dourado, mas cheio de cicatrizes de outras batalhas, sacudindo o ar com a cauda pesada, exigindo um leão a seu lado.- Não te quero para mim. Só te quero emprestado. Devolvo-te a casa inteirinho. Sem amarras.- Gostava - diz ele abafadamente, o que é como uma faca apontada ao peito dela, tanto mais que ela acredita nele. - Já pensei nisso. Mas não posso. Não poderia. Deves esquecer-me. Eu só iria desiludir-te. Podes encontrar alguém melhor.- Eu não quero alguém melhor. Eu quero-te a ti. Desde o instante em que te vi, só te quis a ti.Ele fica a olhar para as pedras da calçada do pátio, apertando o copo nas mãos. Ela abana a cabeça, sorri tranquila como um bom perdedor. Ao retirar dele as garras que lhe lançara, ela espera ter deixado feridas dolorosas. Não está zangada, mas está vazia. Não há nada a fazer.(...)Tinha pegado no telefone para ouvir o som da voz dela, impelido a descrever-lhe o seu tormento, mas parou, pensando que era o que ela queria que ele fizesse. Ela é manhosa, é um lobo vestido de lobo. Inexplicavelmente, ela preenche uma zona escaldante da sua mente e ele só pensa nela.Suspira, muda de posição no assento, sente-se constrangido e abrasado; onde quer que o seu olhar pouse, fica encandeado. Se alguém o abordasse e lhe perguntasse pela sua saúde, ele bem poderia soltar um grito ou desfazer-se em lágrimas. Mesmo que ele agora se afastasse, erradicasse o rosto dela, a sua voz brusca e todas as coisas a ele relativas - seria tarde demais porque nele já ocorrera uma mudança. Já se esquecera do homem que era, já não se lembra de quais eram os seus pensamentos, antes de estarem cheios dela até transbordarem.''


in atracção by cameron s. redfern

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